segunda-feira, 30 de março de 2009

banzo

Séculos atrás, escravos morriam de Banzo, uma doença sem diagnóstico muito preciso ou cura encontrada que fazia com que os mesmos, vistos apenas como mais uma ferramenta para o funcionamento da gloriosa agricultura colonial, perdessem qualquer vontade de trabalhar, ignorando castigos de diversas categorias e se arrastassem pela vida de forma silenciosa e agonizante até o último de seus dias.

O que não se sabia exatamente era a causa da doença, conhecida com o tempo: a saudade. O escravo estava ali, colhendo um café, moendo uma cana, de repente batia aquela saudade do sacolejo africano, de toda aquela cor e batuque e o escravo tinha que ficar ali amoadinho por medo de apanhar. Estando milhares de quilômetros distante da terra natal, da família e do aconchego da savana, restava ao indivíduo apenas o silêncio e a tristeza, além de toneladas de café/cana/insira aqui um produto agrícola para colher.

Hoje o Banzo não é fatal, é só o nome de uma coisa antiga, talvez o nome de um cachorro falante da Sessão da Tarde, mas a saudade continua firme e forte. O Banzo do século XXI faz apenas com que algumas pessoas façam uma cara de Regina Duarte/José Saramago (assim, tombada para o lado) vendo fotos de outras épocas na tela do computador.

Fui afetada pelo Banzo essa tarde ao encontrar no meio de uma revista um bilhete sem muita diagramação, mas com uma moldura de flores construída a partir de alguma caneta de brinde. Convidava com uma letra muito redonda para assistir O Proxeneta e um filme ruim, programa muito comum em 2006. Os autores do bilhete estariam se preparando para o evento e fazendo doces com leite ninho, talvez tivessem chegado ao local em carrinhos de supermercado ou cadeiras de rodinha, transportes comuns em 2006. Deviam estar ouvindo aquela música escrita pelo próprio demônio e interpretada pelo Placebo e conversando sobre o metrô da vila Guilherme, as pirâmides do interior do Paraná, álbuns do X-men, o cu da bunda, nossos futuros brilhantes e etc, assuntos comuns em 2006.

Resumindo: estou com saudades das pessoas, da savana e do batuque.