sábado, 22 de agosto de 2009

post profissional

Bom saber que o bloco de notas do Windows não mudou nada. Tenho um computador novo, nada instalado, alguns cds baixados ilegalmente e acabo de perceber que a quebra de linha deste programa deprimente (para não dizer ridículo) ainda não está configurada.

Ouço tango nesse momento, mas não sei se é o tango verdadeiro, aquele tango true, de raiz, ou se são apenas moleques de algum país distante posando como mais alternativos do que qualquer alternativo do planeta, resumindo sua alternatividade em frases como "incorporar o pensamento contemporâneo de uma nova sociedade efêmera e globalizada às tradições locais, partindo de uma nova proposta audiovisual que evoca o pensamento construtivista e o decompõe, mixando temas como Nietzche, cinema iaraniano, novos poetas chineses, rítmos latinos e Hello Kitty".Tenho um certo preconceito contra qualquer coisa que se apresente como "uma nova proposta", principalmente se estiverem inseridos nessa apresentação termos como "audiovisual" ou "design".

Para os que não sabem (ninguém é obrigado a saber disso, aliás), sou designer, formada pela grande mãe conhecida como universidade pública, de onde a cada ano saem profissionais com menos conhecimentos e mais iludidos pela modernice contida no esteriótipo do designer. Ou seja, de centenas de universidades do país saem hipsters iludidos pelas fotos de gente de cabelo estranho sentadas atrás de seus Macs com legendas do tipo "criação e desenvolvimento" ou mesmo "trampo pra Apple, fazendo ilustração" seguidos de comentários dos colegas de profissão, onde raramente as palavras variam, se mantendo na linha de "massa seu trampo, cara, me add aí", "bem loco seus corre, broder, vamos entrar em contato" ou "dahoooora seu traço, cara, paguei um pau!" Em geral, penso que as pessoas dos comentários são apenas adolescentes do interior que estão aprendendo a usar o Corel Draw.

Essa semana, após um dia cansativo, fui parar em uma apresentação de um grupo chamado Sonax, que prometia uma desconstrução da música gerando uma nova percepçao por parte do espectador, baseando-se no som das cidades e na interferência que esses sons têm em nosso dia-a-dia, além de algo que eles chamavam de "esculturas sonoras". No palco, objetos como panelas, telhas, canos, tijolos, um piano lindo, um violão e um Macbook (óbvio, usar pc não é uma desconstrução). A apresentação começa e por um período que pensei que nunca fosse acabar, homens adultos, barbudos e descalços (uma clara referência à Xanddy, o marido de Carla Peres, que já nos anos 90 se mostrava vanguardista e se apresentava sem sapatos) batiam nesses objetos loucamente (menos no Macbook, claro eu tenho certeza que aqueles músicos são designers e precisam do equipamento para trabalhar) transformando o auditório em algo que eu imaginaria ver no inferno, caso ele realmente exista. O público, formado por gente pós moderna e muito cult parecia ter orgasmos audiovisuais a cada batida que esses homens davam nessas panelas. 3 minutos depois, me senti idiota por estar sentada ali e resolvi sair, ganhei uma taça de champagne na saída, o que aceitei como recompensa pelos três minutos de permanência, cheguei a cogitar voltar para o lado de dentro e esperar meu prêmio por 10 minutos. Desisti.

Na verdade, o grupo não tem muito a ver com o que eu queria dizer, mas serviu pra mostrar como é fácil se passar por idiota na frente de 240 pessoas se baseando em "ser diferentão".

Ainda ontem discutia com um grande amigo sobre as merdas que o "audiovisual" fez pela humanidade. Quero dizer, o estudo do design pode fazer muito pela sociedade, pode melhorar e muito a vida das pessoas, mas acaba sendo praticado por gente que acha que ser designer é viver de "ilustras" e "corres", vetorizando e colorindo quando gráfico, aplicando acrílico, aço escovado e curvas quando industrial. Tenho um certo asco dessa galera.

Desculpem amigos designers que fazem o que eu citei acima, vocês são legais, eu gosto muito de todos, apenas discordo de seus pensamentos e ando meio em crise, isso é um direito meu. Não sei nem como terminar esse texto, ele vai ficar assim e vou postá-lo no blogspot enquanto abro a cerveja mais honesta da minha vida.

O tango acabou e começou um Descendents maneiro, êba!